Insapiências
Cá estou eu coração abaixo. E o ventre da palavra está seco. Sou o mapa que não sei e o abismo que não aguento. A realidade flutua sobre a escuridão, nata que entendo sobre o leite que não entendo. Emito tentáculos. Íntimo manuseio de angústias. Cerâmica de sombras.
Sou a que despenca. Sou a tala vergando sob o peso da fratura. A que mastiga pedaços de escuro, estranha hóstia. A que abre a boca para receber a Grande Fome. A que vomita na ribanceira das palavras um revés de discurso. A que grita até rebentar todos os diques da garganta: é preciso sangrar todos os sons, para, enfim, cicatrizar. A que se esgota. A que se esgueira nos vãos do Nada. A que pede na noite. A que suplica. A que se craveja de unhas roucas. A que.
Mas ainda quero. E se esse escuro me pulsa? E se poreja galáxias e se eu intuo lasciva pétalas na vertigem? Sinto cheiros e angario delícias invisíveis. Obstinadamente humana, nanquim e cio.
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