quinta-feira, 28 de maio de 2009
domingo, 24 de maio de 2009
Quero escrever um ato vazio. Janela esfaqueada no peito pra um sol de ébano. Peito-correnteza, peito do leite doce dos silêncios. Coração ternura triste, arrastando vazio por todo o corpo. Nenhum dique de luz. Jorragem. Travessia de escuros. Viver é desanúncio. Escuro é templo. Me escondo numa poça recôndita, numa víscera até pra mim longínqua, tranço tranças de escuridões elásticas, me amamento no arrepio dos nadas. Colho no vago o comer das minhas esfinges. Não quero resposta. Quero um caldo que me venha da angústia, que me abençoe as fissuras, me apascente os desfiladeiros. Quero hoje ensolarar-me de ser só.
quinta-feira, 26 de março de 2009
quarta-feira, 25 de março de 2009
Ser mulher é missão de ignescência
Abro a janela para que o hausto do dia me beije
Tão bonita a vida ardendo o dia
Flamejo
Tenho dentro um vermelho de filhos
Verto lava quando se me revoltam as fertilidades
Segura a minha mão, eu vou te gritar nascimentos
Meu trabalho é de parto, reparto, desapequeno o possível
Amo
Subo no telhado do mundo pra pulsar no vento
Quero meu cabelo assanhado
Receber lufadas de devir como uma rosa-dos-ventres
Girar ao sabor das minhas natividades
Há de ser amoroso, há de ser belo, há de ser "entre"
Estou tão amorosa que o meu peito se constringe
"Entre" é pulsante demais
Adormeço, sangro
Meu leito é o mundo no peito
terça-feira, 24 de março de 2009
terça-feira, 10 de março de 2009
segunda-feira, 2 de março de 2009
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
sábado, 7 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Armada de minha nudez, eu milito contra o plástico. Armada de minha nudez, dos meus poros quentes e sedentos como os teus. Solidão, um fosso aberto no lugar da placenta. Enigma sugante e escuro no lugar do chão. Gente dói. A morte e o gume de suas amputações. Sabes quando choras até esvair-se em ser? Quando vomitas um pé e um chão? Quando vomitas um órgão ermo que, nem sabias, habitava o teu estômago? A vida tornou-se sedenta como uma população de giz. Quando não há oásis a gente aprende a ser cáctus? Incursiono pelas minhas profundas aléias e te trago um buquê entretecido de flores tão apaixonadamente minhas.
Tu tens medo de dar-me a mão? Sei que te falo de um jeito que te arrasta cá para as funduras. Tenho palavras afundadoras, eu sei. É que este é meu habitat natural e para cá te convido. Dá medo, mas é tão lindo, tu nem imaginas. Ou será que já o sabes? Aqui a gente é de lupa nos poros. A gente sente, avassaladoramente. A gente escuta a correnteza do íntimo vinho em seu incansável curso, banhando as entranhas. Um mar vermelho e suas vivas estocadas. Escuto a toada da tua existência em confluência com a minha. Quando estou aqui, sou-te e és-me numa mesma entrepele. Namoro silente o halo amoroso do teu olhar. Percebo quando o ângulo frágil da tua retina se crispa dizendo de dores no teu profundo. Ou de perplexidades. Ou de sentimentos indecifráveis. Sei quando me pedes porque é daqui que eu te preciso tanto. É daqui, amor, que um humano nutre outro humano. E a tua face fica tão linda. O bom do teu abraço fica tão intenso. Me deixa falar. Me dá do teu encontro. A palavra me desinibe e apraz-me ser na tua frente.