terça-feira, 27 de janeiro de 2009

"Claricices"
Silêncio. Palavras amamentando pessoas. Quero sobrevoar minhas reentrâncias, fazer piruetas no ar de meus cernes. Hei de içar borboletas cheirando a terra. E de uma secreta dor eu gesto as minhas asas, preparo no ar a minha mangedoura, ainda que me pesem as asas sujas de terra. Será que é amor o nome desse húmus? Será que é fé a encorpadura desses caules? E de multi-galhos eu quero viver, eu quero angariar divindade.
Deus, será que se eu me deitar bem fundo no avesso de mim, eu Te toco? Também Tuas mãos etéreas vejo sujas de terra. Não é curioso eu estar me lavando na terra em que me instalastes? Eu mordo a terra porque sou ser fotóvoro.
Holofotes sutis desvelam a minha intra-aurora. E de tanto me despir eu me encho de pétalas. Que é em estado de nudez absoluta que eu amo. Eu, nudez tanta, revirgino-me, rego mais amores. Que quanto mais eu me desnudo, mais eu escancaro a minha mistura de terra e luz.
Dou minha mão em casamento ao meu desnudamento. E nunca haverá mais sacro despudor. Alguém já ouviu falar em gente destilada? Se consegue lavando gente com terra. E pensar que um dia foi tanta dor, como se eu tivesse dormido no fel. Mas chega o tempo do despertar e, fel-incitada, acordei. Ou fel-excitada, não sei. Sou do amor que sei e des-sei, inconclusa e cotidianamente. Lembra que eu me revirgino? Tenho um estoque inesgotável de hímens, tal qual meus óvulos. É preciso maturá-los para, então, revirginá-los. E é tudo que eu digo me reparindo. Palavras parindo pessoas. Será que se pode chamar de dor a vida dilatando a pelve? É dor a vida esgarçando a superficialidade para nascer?

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