Parto
Um corpo adoecido
Emagrecendo paulatino, esvaziando-se de si
Minhas células conspiram contra mim?
Ou apenas me remam ao meu encontro?
Eu que sempre fui eu agora sou vetor de mim para onde
Para onde.
Inexoravelmente, estoicamente, incandescente, murchante
Bebendo do dúbio copo, metade vida, metade morte
Pêndulo estéril de oráculos
Talvez eu sare, talvez eu morra, talvez eu perceba
Que a vida foi sempre um caudaloso talvez
Talvez eu saiba que amei tanto e tanto
Que a vida foi excruciante vida deleitosa, leitosa e sementeira
Talvez eu manche o avental da enfermeira de uma rubra transcendência
Vermelho mais luminoso que vermelho
Mais unguento que cruento
Talvez eu a ame indelevelmente
Talvez eu lhe conte o meu segredo de prenhez travestida de despedida
Talvez eu sangre nela a minha vivacidade e a minha lucidez
Talvez eu encomende cuidados aos meus que ficam
Adorados, amados
Suo mais de saudade que de febre
Eu que adoeço a dor difícil de um novo começo
Talvez eu jejue de mim mesma
Última corajosa refeição para que eu, enfim, caiba num corpo de gênese
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