Velhinha
Ordenho as tetas do tempo. Como serão meus aniversários? O que é a velhice senão a antologia das nossas sensibilidades? Maturo a minha puerilidade para, ao final, colhê-la. Ou será que já a colho todos os dias? O que mais fazem os anos senão alocar vida nos nossos poros? Imagino-me com olhos de criança quando a vida se me trouxer eu, nudez tanta, tonta, tinta em tantas cores, envolta em laços de fita, aos 70, 80 anos. Quando eu for pequena, do tamanho de uma velhice, quero trazer nos olhos baços, mas não incólumes, a mesma infanta volúpia: o que mais ser e crescer? Como sempre, sorvendo verdades ininventadas, sabores indegustados, amores indesvelados. Ai que fome, dá vontade de comer um caminho inteiro. Porque o horizonte insiste em intumescer-se no meu peito, uma vastidão me quer para si.
Nenhum comentário:
Postar um comentário