terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Jurisprudência
Somos tão sábios e há sangue na nossa toga. São tão rápidos os nossos chips que já não apreendem sequer a durabilidade de um sorriso. São tão velozes os nossos trilhos e milimétricas as nossas estações, que já não sazonam sequer a nossa compreensão de nós mesmos. Eu já não desço mais do bonde para te abraçar. Já não tenho tempo de sentir o que sou eu. Amputo as coisas das coisas. Porque sou tão meteórica e pirotécnica que já não me posso apreender. Até quis olhar no espelho, mas eu já tinha passado.
Tenho saudades de me sentar comigo na varanda, sob o sigilo das samambaias, sob a lira dos pintassilgos. Como faz falta gente na vida! Tenho saudades de me deitar na relva sobre o amor das coisas. Sou sensacional e já não tenho sensações, nem tempo de me comemorar. Envolveram meu corpo em papel celofane (e eu queria abraço de criança) e a minha caricatura embrulhada sorri um sorriso estético e enfermiço. Eu chamo de opulência a minha fome. Eu chamo de mundo meu franco desespero.
Eu quero me espraiar nos prados sobre a volúpia da terra. Dentro de mim, venho sonhando a minha vocação de enxada. Porque preciso revolver a minha casa e arejá-la com túneis humanos. O que fiz de minha oca? Vou sonhar searas da cor de tudo que eu preciso.

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